Lembro-me de minha empolgação no primeiro ano de graduação em fisioterapia, onde junto com outros poucos alunos de outras áreas da saúde, nos emocionamos pelas colocações feitas nas aulas de antropologia ou sociologia dizendo que o ser humano é um Ser “Biopsicosocial”, ou pela definição de saúde feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é “O completo estado de bem estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade”. Aquilo parecia aumentar o entendimento sobre o próprio ser humano.
Atualmente sabemos que as diferentes profissões acabam não colocando em prática esses conhecimentos. Isso ocorre, por um lado, devido à necessidade de se especializar cada vez numa parte do corpo e pelo aumento da concorrência no mercado de trabalho; e por outro lado, pela falta de um entendimento mais profundo do ser humano. Isso acabou gerando uma grande quantidade de métodos e cursos com diferentes formas de abordagem do corpo humano. Algumas mais holísticas, tentando integrar os diferentes sistemas corporais como a osteopatia, quiropraxia, Pilates, terapias de tratamento posturais, etc. Outras mais segmentares, como algumas terapias manuais, eletrotermofototerapia, entre outros recursos. Ambas visam prevenir e tratar disfunções do corpo. E com isso analisávamos e entendíamos o funcionamento do corpo, usando o modelo “biomédico”, onde apenas a parte física poderia gerar problemas ou dor.
As últimas pesquisas vêm mostrando que as dores não são exclusivamente causadas por uma lesão nos tecidos corporais, mas também estão diretamente relacionadas com aspectos psicológicos, ou seja, o que as pessoas pensam e sentem sobre os problemas que possuem. As dores crônicas estão presentes na maior parte dos pacientes que procuram algum tipo de tratamento, e se essas possuírem um componente psicológico associado, podem gerar em alguns, a chamada cinesiofobia (termo usado para quem tem medo de fazer exercícios por achar que seu problema vai piorar), e também o fenômeno da catastrofização (termo utilizado para aquelas pessoas que acreditam que seu problema é muito maior do que ele realmente é). Com esses novos conhecimentos, está utilizado o modelo “Biopsicosocial” dentro da ciência, e não mais apenas como um assunto a ser idealizado em algumas disciplinas que propiciam esse tipo de reflexão.
Um novo paradigma está surgindo para todas as profissões da saúde, onde se torna necessário uma análise multidisciplinar para melhor avaliarmos e tratarmos as pessoas que tenham dor ou prevenir que ela apareça, ou ainda para melhor direcionarmos os treinamentos dos nossos alunos de Pilates, treino funcional ou qualquer outro tipo de atividade física. Quanto mais observarmos os nossos pacientes/alunos com diferentes olhares, melhores serão os resultados atingidos para propiciar uma vida saudável. Quando falamos em atendimento com diferentes profissionais, usamos o termo multidisciplinar. Quando dizemos que esses profissionais trabalham juntos num mesmo local, é formada então uma equipe INTERDISCIPLINAR.
Essa forma de abordagem interdisciplinar, não é para quem quer continuar com paradigmas antigos, tendo sucesso apenas sozinho, ou que se sente disputando o mercado de trabalho com outros profissionais de sua profissão, considerando-os “concorrentes”. Essa nova tendência em formar uma equipe, é para quem quer melhor atender as necessidades daqueles que nos procuram, que querem fazer parcerias e crescer juntos e que analisam o ser humano de uma forma mais ampla. É um pequeno passo que damos em direção à evolução das profissões de saúde. Quem sabe não repercuta nas profissões de outras áreas de atuação. E por fim, quem sabe não estamos dando uma pequena contribuição para integrarmos mais as pessoas a lutarem por um objetivo em comum? Fazendo bem feito a nossa parte, quem sabe não ampliaríamos a própria forma de pensar sobre o trabalho?
Renato Nitzsche
Fisioterapeuta CREFITO 3 / 66275-F
Especialista em Fisiologia Humana, Fisioterapia Músculo-Esquelética e Esportiva.
Equipe Marcelo Capella de preparação física