Algumas pessoas apresentam alteração de formato na cabeça do fêmur, que faz com que não seja completamente esférica. Com esta alteração, quando se realiza movimentos de flexão e rotação do quadril, ocorre uma situação chamada de Impacto Femoroacetabular.
Essa condição nada mais é do que a parte disforme da cabeça do fêmur colidindo contra a borda da bacia, chamada acetábulo. Este impacto danifica estruturas como a cartilagem e o labrum acetabular. Esta colisão repetida ao longo do tempo irá provocar desgaste precoce e acelerado na articulação do quadril, e isso é especialmente importante para pacientes muito jovens, pois poderão desenvolver artrose precocemente do quadril.
O IFA é uma das principais causas de artrose do quadril, que é o desgaste. Ele é muito importante porque inicia de forma muito sutil, com uma dor de pouca intensidade, que às vezes o paciente não descreve como dor, descreve como um desconforto. É muito comum iniciar em pessoas jovens.
Tratamento precoce
Quando começamos a tratar de uma forma precoce, conseguimos mudar a história natural da artrose. Ou seja, aquele quadril que está tendo uma artrose gradativamente, está desgastando a sua cartilagem aos poucos, pode ser trabalhado pra que não gaste de uma forma tão rápida. E o Pilates pode ajudar muito no tratamento. Acompanhe nossas dicas mais abaixo. Antes, vamos conhecer os tipos de impactos.
Conhecendo os tipos de impactos Femoroacetbular
O impacto pode ser:
1: FUNCIONAL
Se divide em 2 situações:
1.1:Pessoas com o formato do Fêmur e do acetábulo completamente normal.
Possuem uma alteração postural importante, uma coluna lombar muito curvada (hiperlordose). Neste caso a bacia é jogada para frente e isso faz com que diminua o espaço na frente entre os ossos da cabeça do fêmur e o acetábulo.
1.2:Pessoa sem alteração postural, sem alteração da anatomia óssea (Fêmur e acetábulo normais), porém com uma hiper frouxidão ligamentar e hipermobilidade articular.
As articulações são muito instáveis e isso pode acontecer em situações de doenças e em situações normais. Situações em que a pessoa precisa disso para trabalhar, para viver, que praticam uma atividade desportiva ou uma atividade física, onde elas promovem um movimento da articulação do quadril acima do usual. Essas pessoas trazem a perna em flexão ao extremo, muito além do que a articulação foi preparada para receber. Por exemplo: bailarinas, lutadores de artes marciais, artistas de circo, atletas de ginástica rítmica, ou até mesmo no jogador de futebol, quando dá um chute muito potente e o quadril realiza um movimento acima do normal, acima do fisiológico.
2: ANATÔMICO (Clássico):
Esse é o tipo mais comum. É caracterizado por pequenas alterações de formato do quadril, que faz com que ele, mecanicamente, não funcione de maneira perfeita. E isso vai causando um estresse excessivo. As lesões podem ser classificadas em 3 tipos:
2.1: CAME: calosidade óssea a mais na porção lateral ou anterior na transição entre a cabeça do fêmur e o colo femoral.
Não está presente desde o nascimento, isso se forma em geral a partir da pré-adolescência, entre 7 e 12 anos de idade. O problema é que esta alteração, ao invés de permitir o quadril de se movimentar livremente, faz com que ele tenha um choque de maneira precoce contra o osso da bacia, o osso do acetábulo, por isso o nome IFA. As vezes, quando o paciente tem esta alteração, ele acha que é o impacto do seu peso no solo quando faz uma atividade de impacto, mas não, o problema é o impacto do osso do fêmur contra o osso do acetábulo. Os primeiros sintomas iniciam entre os 25 e os 35 anos de idade, por isso é muito importante o tratamento precoce para impedir o desgaste da articulação.
2.2: PINCER: Excesso de osso na borda do acetábulo.
Acontece a mesma coisa que no tipo CAME, mas o culpado é a bacia. Quando se realiza o movimento de flexão e rotação do quadril, o fêmur se choca contra a borda da bacia.
2.3: MISTA:
Ocorre em 60% dos casos.
Tratamento Clínico & Cirúrgico
Quando o impacto é muito pequeno não é sinônimo de cirurgia. O profissional deve individualizar sempre o tratamento caso a caso, de acordo com o exame físico, com a finalidade de identificar os momentos e movimentos que incomodam o quadril e causam dor, saber qual o esporte que o paciente faz e o que deseja fazer de esporte no futuro. O ideal é poder tratar de forma precoce, quando a cartilagem ainda estiver íntegra, para que este paciente não tenha problema de desenvolver artrose. Quanto mais desgaste, mais difícil de voltar à atividade plena.
Em geral, o tratamento cirúrgico dessa alteração é passiva de correção por um procedimento chamado videolaparoscopia do quadril, que tem o objetivo de corrigir a alteração óssea através de uma raspagem da parte alterada. Com isso, é possível transformar o quadril que tem uma alteração pequena, mas que causa danos à cartilagem, em um quadril mais próximo do normal possível. O intuito é que o paciente tenha seu movimento restaurado e fique com o quadril com uma movimentação livre. Porém, se o desgaste é muito avançado, pode ser necessário a substituição de toda a articulação do quadril por meio de uma prótese total do quadril.
Tratamento Fisioterapêutico Tradicional
Para que possamos devolver a função e qualidade de vida a nossos pacientes devemos saber quais exercícios aplicar no tratamento fisioterapêutico frente a essa possibilidade.
As modalidades passivas (TNS, Ultrassom) possuem evidências científicas limitadas. Quando comparamos uma pessoa que tem uma dor específica e que usou o TNS, por exemplo, com uma pessoa que não usou, muitas vezes comprovamos que o uso não fez diferença nenhuma.
Um aparelho que vem se destacando e ganhando um pouquinho mais de aplicabilidade na fisioterapia nos últimos tempos, mas que também tem suas limitações, é o laser. A Laser terapia ajuda na redução da dor e favorecer a regeneração tecidual.
Mas sabemos que no tratamento de fisioterapia tradicional não é interessante atuar somente com a parte passiva ou terapia manual, que envolve massagens e mobilizações, por muito tempo, pois pode causar aderência, principalmente após a cirurgia. Até porque os pacientes não sentem muita dor no pós-operatório, então não tem porque ficar aplicando várias modalidades passivas para alívio da dor num sujeito que tem dor numa escala de 0 à 10, 2. O paciente consegue realizar tudo com uma dor 2.
Tratamento Fisioterapêutico com o Método Pilates
As maiores evidências de melhoras, relacionadas a fisioterapia hoje em dia, estão direcionadas aos exercícios físicos, que é um dos pontos mais importantes para alcançar resultados expressivos. Uma das modalidades que abordamos com sucesso é o Método Pilates Autêntico.
Por meio do Pilates, é possível trabalhar:
- Exercícios para melhorar a Amplitude de Movimento (ADM);
- Exercícios para a contração (acordar o músculo) que está inibido, principalmente após a cirurgia. Se ele não consegue acordar, não terá uma contração adequada;
- Reforço muscular sistemático (pacientes apresentam redução de força dos 6 grupos musculares do quadril (flexores, extensores, adutores, abdutores, rotadores internos e rotadores externos);
- Movimentos para melhorar a funcionalidade (apresentam redução de amplitude, dificuldade de cruzar as pernas, entrar e sair do carro, amarrar um cadarço; etc);
- As articulações que se movimentam demais, já que ele precisa de músculos para ancorar (estabilidade lombo pélvica para os músculos conseguirem se manter e para os músculos das pernas não ficarem mais fortes e os da pelve instáveis);
- Alongamentos para ganhar mobilidade tendínea.
Alguns exemplos de exercícios de flexão e abdução
Contraindicações relativas
Devemos ter cuidado na amplitude em flexão do quadril, pois na flexão ocorre o impacto femoroacetabular. Então, devemos evitar grandes flexões do quadril para não agravar o quadro do paciente.
Observar a amplitude de movimento na subida do pedal, pois os pacientes possuem dificuldade em cruzar as pernas devido ao movimento de rotação externa do quadril que está diminuída e causa colisão da cabeça do fêmur no labrum.
Nos casos de frouxidão ligamentar e articulações que possuem instabilidade, devemos trabalhar a estabilidade. Pois a pelve tende a uma antero versão do quadril, aumentando a curvatura da coluna lombar e, consequentemente, reduzindo o espaço da articulação do quadril, o que causa o impacto funcional. Além disso, devemos respeitar o ângulo de abdução do quadril.
Solaine Perini
@solaine_perini
Graduada em fisioterapia pelo Centro Universitário Feevale. Especialista em Fisiologia do Exercício: Prescrição do Exercício pela Universidade Gama Filho(UGF). Mestranda em Reabilitação e Inclusão pelo Centro Universitário Metodista (IPA) e em formação com a The Pilates Studio Brasil – Inélia Garcia. Diretora Técnica da Original Pilates. Possui experiência em docência nos cursos de formação em todo o país.
Modelo: Bruna Fernandes