Imagine a seguinte cena: em uma calçada há uma senhora bem idosa à espera do ônibus. Este chega, ela com dificuldade ergue a perna e alcança o degrau da porta, mas se apresenta impossibilitada de subir. Cena dois: Está um senhor assistindo aos Jogos Panamericanos na televisão ao mesmo tempo em que está fazendo um lanchinho. Ele finaliza o lanche, segura a bandeja com ambas as mãos e tenta levantar, em vão, de sua poltrona.
O que estes idosos têm em comum que lhes impossibilitam de realizar suas atividades? Então, aumentar a massa muscular não é só importante para atender a um propósito estético. É, sobretudo, uma questão de saúde e de manutenção de qualidade de vida. O processo de envelhecimento invariavelmente leva-nos à redução gradual da massa muscular, com impacto importante sobre nossa força e até mesmo na habilidade em desenvolver tarefas cotidianas. A redução da massa muscular, portanto, coloca-nos em uma condição de restrição aos esforços, contribuindo ainda mais para o sedentarismo e para todos os seus efeitos deletérios sobre a saúde. Desenvolver a massa muscular significa, em certo sentido, investimento para um futuro mais saudável e independente.
A promoção de qualquer aumento da massa muscular é dependente de um conjunto de fatores. Resumidamente, disponibilidade de nutrientes (principalmente energéticos e construtores e nos momentos apropriados), ambiente interno adequado ao crescimento celular, ou seja, dominância de fatores/sinalizadores de anabolismo sobre catabolismo celular, que estão relacionados relativamente à normalidade endócrina e é proporcionado por adequado ciclo de estresse específico e repouso.
Mas, qual ou o que é estresse específico? Claro, é o estresse do exercício. Mas não qualquer tipo ou forma de exercício. O estresse adequado à promoção do aumento muscular é principalmente aquele que envolve um grande componente de contração muscular (como fazem os levantadores de peso) ou importante estresse metabólico (como fazem os fisiculturistas). Em termos mais práticos, envolve os exercícios resistidos, onde há uma elevada quantidade de carga, que proporciona a realização de um número reduzido de repetições do exercício, ou muitas vezes a combinação de cargas moderadas com reduzido intervalo de recuperação entre séries.
É necessário, para tanto, que haja alto grau de exigência muscular para que sejam deflagrados e mantidos os mecanismos celulares de “hipertrofia muscular”, aqui entendida como aumento da massa muscular. Embora comumente esta exigência seja referida como “carga” de trabalho, cabe ressaltar que verdadeiramente há muitas outras variáveis a considerar, como o número de séries ou exercícios para um mesmo segmento corporal, frequência semanal deste estímulo, a progressão destas variáveis ao longo do tempo, que variam de acordo com o nível de treinamento em que o aluno se encontra.
Voltando a pergunta inicial, frequentemente as pessoas questionam se o Pilates pode promover ganho de massa muscular e, também comumente, a resposta que se ouve é “não” porque não se vê frequentemente praticantes de Pilates com massa muscular avantajada. Talvez por isso, a dúvida e a resposta sejam usuais. Mas observe que, mesmo a musculação, pode ser realizada sem resultar em maior expressão da massa muscular.
É preciso reconhecer e perceber que a promoção da hipertrofia muscular requer a realização de um programa de exercício resistido elaborado com este propósito. O aumento da massa muscular só ocorrerá se o exercício for promotor primário de três fatores: elevada tensão mecânica, relativo dano muscular (não deve ser entendido como lesão muscular) e estresse metabólico. Assim, tanto a musculação, quanto o Pilates ou outra forma de exercício resistido podem ser programados para promoverem aumento da massa muscular.
Finalmente cabe um questionamento: qual era a aparência física de Joseph Pilates? Uma breve observação sobre boa parte de suas fotografias ou vídeos revela um senhor com grande volume muscular para sua idade. Teria Pilates praticado outro tipo de exercício (que não o Pilates) para este fim? Quem bem conhece o seu legado sabe responder bem a esta questão, não é mesmo?
Aline Mendonça
Fisioterapeuta 35432F
Instrutora de Pilates
Dir. técnica da Active Pilates Brasil
Cloud Sá
Ed. Físico, Esp. Fisiologia do Exercício, Mestre em Nutrição, Doutor em Medicina, Prof. da cadeira de Fisiologia do Exercício da Universidade estadual de Feira de Santana.
Coordenador Científico da Active Pilates Brasil.